quarta-feira, 24 de agosto de 2011

De poético a político


Rio Oir. É com este jogo de palavras palíndromas – que podem ser lidas nos dois sentidos - que o artista plástico Cildo Meirelles batizou sua mostra que inaugurou no último dia 18, no Itaú Cultural. Parte da série Ocupação, a obra mostra o som captado das águas das três maiores bacias hidrográficas brasileiras, juntando-as ao som de risadas. “ ‘Rio’, se refere às risadas, e o ‘Oir’ (ouvir, em castelhano) a esse rio virtual” explica Cildo. A idéia, que teve início nos anos 70 em anotações feitas pelo artista, começou a ser realizada em 2009 quando foi dado início a coleta dos sons em Águas Emendadas, na foz do Rio São Francisco, nas cataratas de Foz do Iguaçu e na Pororoca, Amapá.
“Viajamos para captar o som delicado das águas, mas o que encontramos foi a privatização dessas nascentes”, explica o curador da mostra, o arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik.” E foi assim que o trabalho passou de poético para político”, brinca. Quem compartilha da mesma idéia é Gustavo Rosa de Moura, diretor do documentário “Cildo”, sobre a vida do artista. Somente com uma ressalva. Para o cineasta: “o aspecto político de Cildo, está sempre a serviço de um princípio poético” explica.
Para o próprio artista, a raiz da questão esta em suas vivências pessoais. “O espaço urbano começou a virar uma espécie de labirinto de proibições”, argumenta Cildo. “Quando morei Brasília, em 1958, a gente passeava nas cachoeiras de Tiquira, que hoje estão sendo transformadas em resort ou em campos de golfe”, conclui.
No primeiro ambiente da exposição, o visitante se depara com o límpido cair das águas, no seguinte, com boas risadas. Com edição de Fernando Magalhães, o som é emitido através de um vinil long play, prensado em Londres, no estúdio Abbey Road, que, aliás, já foi usado pelos Beatles.





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